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ESTRESSE E AFASTAMENTOS: Editorial do Diário da Região da edição do dia 2 de agosto de 2017

Reprodução na integra do Editorial do Jornal Diário da Região da edição do dia 2 de agosto de 2017: 
Dados obtidos pelo Diário da Região por meio da Lei de Acesso à Informação revelam que nos últimos cinco anos o afastamento de servidores públicos custou R$ 25,3 milhões à Riopretoprev, o fundo previdenciário dos servidores municipais de Rio Preto. Nesse período, foram concedidas 2,2 mil licenças por problemas de saúde. São 195 mil dias de afastamento concedido a parte dos 5,7 mil servidores na ativa no município.
Números tão expressivos têm chamado atenção de diferentes formas. De um lado, existe a percepção da existência de abuso - “uma verdadeira indústria do afastamento”, encorajada pela estabilidade no emprego, como observou Álvaro Martim Guedes, professor da Unesp e especialista em administração pública, ouvido na reportagem do jornalista Allan de Abreu.
De outro lado, a defesa do funcionalismo, destacada pelo diretor do sindicato dos servidores, Carlos Henrique de Oliveira. “Os professores enfrentam salas de aula lotadas e sobrecarga de trabalho. Uma hora o problema explode como estresse, porque o servidor se vê sem estrutura e sem apoio.” A maior concentração de licenças está nos setores de Educação e de Saúde. “Cobra-se muito do funcionário sem dar a ele as condições necessárias para exercer um bom trabalho”, diz o sindicalista. Enquanto isso, o governo diz que valoriza o diálogo e, em casos suspeitos, chama uma junta médica para avaliação.
As condições de trabalho devem necessariamente ser consideradas em toda análise que se faça a respeito desse número de licenças. Não é por acaso que a Educação é a secretaria em que mais ocorrem os afastamentos. Explicações não faltam. Reportagens do Diário têm mostrado, ao longo dos anos, a precariedade estrutural de prédios, a superlotação de salas de aula, a presença da criminalidade e do tráfico de drogas nas imediações de escolas e até casos de alunos que vão para a classe levando facas e canivetes. Em março deste ano mesmo, um aluno de 10 anos foi flagrado pela diretoria de uma escola na estância Santa Clara com duas munições, calibres 32 e 380.
Provavelmente exista uma certa dose de oportunismo em meio aos afastamentos, mas os fatos - ao menos a parte que se tem conhecimento - são indicativos muito claros de que a grande maioria dos profissionais é submetida a situações de absoluto estresse, gerador de inúmeras doenças físicas e psicológicas. Nenhuma hipótese pode ser descartada, mas é justo considerar, em primeiro lugar e até prova em contrário, que a situação é efetivamente dramática e esses números devem ser entendidos como um pedido de socorro.

07 de agosto de 2017